A indústria sucroenergética brasileira possui uma rica e extensa trajetória, que teve início na época colonial com a produção de açúcar. Com o passar dos anos, ela evoluiu consideravelmente, tornando-se um líder na produção de etanol e na geração de energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Mais recentemente, a indústria sucroenergética expandiu ainda mais seu escopo, incorporando com sucesso o biogás às suas atividades, consolidando-se como uma força de destaque no cenário de energias renováveis.
Desta forma, o Biogás na indústria sucroenergética é o tema central da entrevista exclusiva que Luciano Rodrigues, diretor de Economia e Inteligência Estratégica na União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), concedeu a Leidiane Ferronato Mariani para o podcast da Amplum Biogás.
Luciano também é membro do Conselho Técnico Consultivo da Empresa de Pesquisa Energética e vice-coordenador da Câmara Técnica e Econômica do #Consecana em São Paulo.
A conversa abordou como a indústria sucroenergética está abraçando o biogás como um recurso valioso e sustentável. Ele ressaltou a fantástica oportunidade da economia circular que o biogás promove, e sobre a possibilidade de extrair e otimizar mais energia dos produtos. Além disso, abordou a relevância do Renovabio, da transição energética, como os biocombustíveis são elementos essenciais para a descarbonização e MUITO MAIS!
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O Biogás e a indústria sucroenergética
No decorrer dos anos, essa indústria passou por uma intensa transformação, expandindo as suas fronteiras tradicionais de produção de açúcar e etanol para se tornar uma verdadeira protagonista no mundo da energia. Com a incorporação de tecnologias avançadas, como o biogás, a indústria sucroenergética está redefinindo seus limites e criando um novo panorama para a produção de bioenergia.
Sobre a indústria do açúcar, Luciano afirma:
“Essa é uma indústria que começou lá, quase que junto com o Descobrimento do Brasil, produzindo açúcar e que já há muitas décadas migrou, digamos, na esfera tradicional do agronegócio, como fornecedor de alimentos, e entrou no mundo da energia, inicialmente com etanol. A gente mistura etanol à gasolina no Brasil desde 1931 e ganhou mais relevância a partir da década de 70”, explica.
O biogás, proveniente de uma variedade de subprodutos, incluindo resíduos de cana-de-açúcar e outros materiais orgânicos, está emergindo como uma fonte de energia excepcionalmente eficiente. Durante a conversa, Luciano destaca que a indústria está avançando para a produção de uma série de produtos de bioenergia, contribuindo de maneira significativa para a redução de emissões de gases de efeito estufa.
“Nós estamos falando de um produto [o biometano] que emite 10 vezes menos gases de efeito estufa (GEE) se comparado ao seu concorrente fóssil. Então, acho que [o fato de emitir menos GEE] amplia significativamente o portfólio de produtos energéticos dessa indústria. [O biometano] tem potencial para isso e também melhora a intensidade de carbono”.
Um dos principais aspectos que tornam o biogás tão atraente mercadologicamente é a capacidade que ele tem de promover modelo de negócios fundamentado pela economia circular, onde resíduos se transformam em coprodutos valiosos. Através do processo de biodigestão, o biogás é extraído dos resíduos e pode ser transformado em energia térmica, elétrica ou ainda veicular, como o biometano, que é uma alternativa sustentável ao diesel e ao gás fóssil.
Sua pegada de carbono substancialmente menor coloca o biometano em vantagem em relação aos concorrentes tradicionais, além de poder ser usado para melhorar a produção de etanol, reforçando ainda mais a busca da indústria por maior eficiência e sustentabilidade. E sem deixar de lado o digestato, que tem potencial de se tornar biofertilizante e assim pode ser utilizado para nutrir o crescimento das culturas, completando o ciclo de produção da indústria.
“[…] o que era resíduo da produção do passado, [é agora] coproduto para extrair novos energéticos, [como] o biogás, o biometano e, ao final desse processo, [não há] mais nenhum resíduo. […] na verdade, agora há um biofertilizante que é aplicado no campo para que a cana possa extrair ainda mais energia no seu processo de crescimento. Então, [apresenta-se] a lógica de economia circular fantástica e [assim como] sobre o ponto de vista de emissões de gases de efeito estufa”.
Produção do setor sucroenergético no Brasil
Na safra 2022/2023, o Brasil produziu aproximadamente 607 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada para a produção de 36,9 milhões de toneladas de açúcar, 31,2 bilhões de litros de etanol, sendo 4,43 bilhões de litros produzidos a partir do milho, e 18,4 TWh para a rede elétrica nacional.
De acordo com a UNICA, instituição que representa um conjunto de associações que compõem a maior voz do setor de açúcar, etanol e bioenergia no Brasil, apenas as usinas a ela associadas são responsáveis por mais de 55% da produção de cana no Brasil, 50% da produção de etanol, 55% da produção de açúcar e quase 70% da bioeletricidade fornecida ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Tais dados representam o imenso potencial que a indústria sucroenérgética do Brasil concentra.
Segundo Rodrigues, com a inovação contínua e o compromisso de reduzir as emissões de carbono, a indústria está moldando um cenário em que a energia e o meio ambiente coexistem de maneira harmoniosa e progressista. À medida que a indústria sucroenergética continua a diversificar sua gama de produtos, abraçando tecnologias como o biogás e o biometano, ela não apenas fortalece sua posição como líder no setor de bioenergia, mas também contribui para um futuro mais limpo e sustentável.
“Hoje esse setor, que era o setor da usina de açúcar e da usina de etanol, está produzindo [também] bioeletricidade, etanol de milho de segunda safra, etanol de segunda geração, biogás, biometano […] e no futuro [essa usina] vai agregar novos produtos, como o combustível sustentável de aviação, hidrogênio renovável e assim por diante”.
Luciano Rodrigues enfatiza que a jornada rumo à transição energética é longa e desafiadora, mas que o RenovaBio fornece um instrumento valioso para valorizar o potencial de descarbonização, incentivando ainda mais a adoção de fontes de energia renovável. Lançado em dezembro de 2016, o Renovabio é uma iniciativa do Ministério de Minas e Energia (MME), que desempenha um papel crucial com a expansão da produção de biocombustíveis com incentivo e previsibilidade para sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Durante o podcast, Luciano cita que o Renovabio trouxe um dos elementos fundamentais para o setor de bioenergia como um todo: um instrumento para valorizar esse potencial de descarbonização, e o outro para colocar na agenda industrial do Brasil os impactos das emissões dos gases de efeito estufa, tal como funcionam os créditos de carbono.
“[há a questão do] preço do carbono que deixou de ser emitido e valorado a partir da comercialização de CBIO. Um outro ponto fundamental é que hoje, [tanto] os produtores de biocombustíveis [como] todo mundo sabem o que é emissão, intensidade de carbono, CO2 por mega joule. […] hoje a indústria passou a entender quais são os principais elementos que impactarão a sua emissão [de GEE]”.
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