Resíduos sólidos e a economia circular

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Qual a importância de criamos modelos de negócios visando a economia circular? Como o tratamento de resíduos sólidos urbanos pode promover este modelo de economia? Como o biogás e o biometano podem apoiar essa estratégia? Quais são os caminhos para garantir a circularidade da fração orgânica do RSU, por meio do gerenciamento dos resíduos no meio urbano e a valorização de resíduos? 

Quem responde essas e outras muitas perguntas é Gabriela Otero, gerente de resíduos e circularidade do Pacto Global da ONU no Brasil, no 16º episódio do podcast da Amplum Biogás. Gabriela é geógrafa e mestre em ciências, ambas as formações pela USP. Possui 15 anos de experiência em gestão de resíduos sólidos urbanos, visando a prevenção à poluição de recursos hídricos e promoção de sistemas circulares com engajamento social. 

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Em um artigo no portal Valor Econômico, publicado em junho deste ano, Gabriela Otero afirma “Quando a economia é linear, o lixo vai para o mar”. Ela explica como esse formato de economia deixa rastros de impactos negativos no ambiente marinho, como 8 a 12 milhões de toneladas de todo tipo de resíduos plásticos acabam chegando aos oceanos (dados do PNUMA). 

Outra estimativa é a do Banco Mundial (feita ainda em 2016) a qual prevê 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos gerados, com potencial de duplicação dessa massa até 2050 se a economia e a gestão de materiais seguir a economia linear. Nesse caminho linear, já percebemos que os prejuízos à vida humana e ambiental são grandes. Mas como a economia circular pode mudar essa realidade?

O que é a economia circular? 

A economia circular é muito mais do que só a gestão de resíduos. Economia circular é basicamente você não ter residual, tampouco sobras no sistema que criem problemas para os sistemas. A referência da fundação Ellen Macarthur, divide a economia circular em 3 pilares e entendimentos: 

O primeiro entendimento prevê a circularidade desde o desenho do produto e dos serviços, de modo que a não gerar um residual. 

Então ao desenhar numa embalagem, deve-se considerar a otimização de todo o processo: que material usar para garantir o retorno da embalagem? Qual o molde da embalagem para que não sobre rebarba? Objetiva-se, portanto, não ter residual com menor consumo de recursos para essa produção.

O segundo entendimento é se o modelo de negócio gera residual, tal residual deve servir para dar escala para outros processos produtivos e econômicos. “Então, [o objetivo é] a gente conseguir desenhar um produto que possa ser valorizado, que possa ser desmontado, reaproveitado, inserido em outro processo produtivo, ou ainda, que ele tenha uma vida longa o suficiente para compensar a sua produção. Então eu gerei [o residual] e nesse processo o material vai precisar ser aproveitado, então dessa forma ele tem que ser valorizado”, explica Gabriela.

E o terceiro entendimento é poder trabalhar com a regeneração de sistemas naturais. Ou seja, escolher parceiros, inserir fornecedores ou serviços que já tenham uma produção ou sistematização que valorize e proteja um ecossistema como parte do negócio. 

Nesses casos, analisando as etapas produtivas, é possível modelar um negócio com práticas sustentáveis, seja criando ou inserindo agentes com tais propósitos. 

“Se a gente tem um cultivo de algum produto de agricultura, de que forma isso pode ser feito com respeito aos conhecimentos tradicionais? De que forma eu remunero bem esses produtores, como eu uso menos agrotóxicos e insumos artificiais possíveis, respeitando a recuperação desse ecossistema para que sempre tenha esse fornecimento? [Circularidade] também é olhar para o que aparentemente está fora do seu processo, que é o abastecimento contínuo, que na verdade deveria permear todo o plano de negócio”, explica Gabriela.  

Em resumos, esses três pilares dão o tom de transição consistente, para promover uma circularidade nos negócios. Ou seja, a economia circular vai muito além do que pensar só no resíduo, ela ampla. 

A economia circular geralmente é observada sob a ótica do processo do setor empresarial, privado e produtivo, afinal é o que tem a maior capacidade de resposta de investimento. Entretanto, há necessidade de apoio de políticas públicas e ações governamentais para dar segurança jurídica e benefícios amplos e transparentes às 

premissas de recuperação natural, de respeito de gênero e raça, de salário digno e sustentabilidade.

O que é o Pacto Global da ONU e qual o seu objetivo? 

Lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global é uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações aos Dez Princípios Universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção, e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade. 

É hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160 países. Mais recentemente, em 2015, foram definidos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que somam cerca de 169 metas. Alguns ODS têm um chamado para o setor público e a maioria tem metas e orientações com um protagonismo do setor corporativo. Seja por um investimento, seja pela expertise, pelo tempo de resposta mais rápido e pela orientação de mercado. 

Para Gabriela “o Pacto Global é um chamado para que as empresas possam ter um ambiente que passem a incorporar, nas suas estratégias e nos seus modelos de negócios, o desenvolvimento sustentável. Então, era muito óbvio pensar que uma frente da ONU para setor empresarial vai acelerar [o atingimento dos ODS] nesse horizonte que vai até 2030”, afirma. 

Para capilarizar a iniciativa pelo mundo afora, foi estimulada a criação de redes locais. A do Brasil foi criada 3 anos depois, em 2003, completando 20 anos em 2023. 

A Rede Brasil é a segunda maior do mundo. Temos outras 65 redes locais. E a do Brasil tem mais de 2000 participantes empresariais e também não empresariais. Isso quase é uma particularidade do Brasil, porque o público da Rede Brasil é o setor empresarial. A gente precisa dedicar esforços para o setor empresarial, mas [..] se não houver alguns institutos de pesquisa no Pacto, [..] inclusive algumas instâncias de governo, [..] como avançar, por exemplo, na pauta de resíduos e circularidade? Ou de inclusão de gênero e raça?”, questiona Gabriela. 

Em resumo, a reflexão de Gabriela nos leva a considerar a importância de ampliar nossos horizontes de colaboração. Para avançar em questões cruciais, como resíduos, circularidade, inclusão de gênero e raça, é essencial envolver não apenas o setor empresarial, mas também institutos de pesquisa e instâncias governamentais. A diversidade de perspectivas e parcerias é fundamental para promover um progresso sustentável e inclusivo.

Quer saber como o biogás se insere nesse contexto e muito mais? Escute o episódio completo no podcast da Amplum Biogás.

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