Fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos: impactos ambientais e soluções sustentáveis

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Autora: Andressa Pereira

Vamos falar sobre a Fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos: impactos ambientais e soluções sustentáveis.

Neste artigo você vai descobrir os impactos ambientais e as soluções sustentáveis explorar o potencial para mitigar problemas ambientais enquanto promove a geração de energia limpa e biofertilizantes.

A Fração Orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos (FORSU) corresponde a quase 50% dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil.

Composta por restos de alimentos, resíduos de jardinagem e outros materiais biodegradáveis, a FORSU é uma fonte potencial de energia e nutrientes, mas também pode se transformar em um grande problema ambiental se não for gerida de forma adequada.  

Quando descartada de maneira ineficiente, além de outros malefícios, os resíduos orgânicos contribuem para a emissão de gases de efeito estufa (GEE), como o metano (CH₄), um dos principais vilões das mudanças climáticas, sendo 28 vezes mais intenso que o dióxido de carbono (CO₂) ao longo de um século.  

O setor de resíduos compreende todos aqueles agentes que precisam gerenciar a disposição final de resíduos, efluentes líquidos domésticos e industriais, incineração ou queima a céu aberto e tratamento biológico.

De acordo com a Análise das emissões de gases de efeito estufa publicada pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), em 2022, este setor foi responsável pela emissão de 91,3 milhões de toneladas de CO2. Esse quantitativo representa apenas 4% do total das emissões do país. 

No entanto, quando considerado o percentual de metano, o setor de resíduos é o segundo maior emissor, com 15,8%, ficando atrás apenas do setor agropecuário, que responde por 71,8%. 

Leia também – Transformação Energética: O papel do Brasil na Economia de Baixo Carbono

Fração orgânica resíduos sólidos urbanos: compostagem, digestão anaeróbia e aterros sanitários

Existem diferentes formas de mitigar o efeito nocivo desses resíduos com o aproveitamento energético ou a correta destinação, as quais trazem diferentes efeitos para o meio ambiente. Aqui será abordado a compostagem, a digestão anaeróbia e a destinação para aterros sanitários: 

Na compostagem, os resíduos orgânicos são decompostos por microrganismos em condições aeróbicas, resultando em um composto orgânico que pode ser utilizado como fertilizante.  

Na digestão anaeróbia, os resíduos orgânicos são degradados por microrganismos em ausência de oxigênio, produzindo o biogás e o digestato. O biogás pode ser aproveitado para geração de energia elétrica, térmica ou ser purificado para produção de biometano e o digestato, como biofertilizante. 

O envio para aterros sanitários é a prática mais comum no Brasil. Nesse processo o resíduo orgânico é aterrado juntamente com outros tipos de resíduos urbanos, em uma área projetada, controlada e devidamente licenciada pelos órgãos ambientais locais – ao contrário dos lixões, onde o lixo é simplesmente depositado a céu aberto. Nos aterros são praticados um conjunto de procedimentos rigorosos para garantir que os resíduos sejam gerenciados de forma segura e eficiente, inclusive possibilitando a recuperação do biogás para aproveitamento energético ou apenas para queima em flare. 

É importante destacar que, no Brasil, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2023, publicado pela ABREMA, 61,1% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) coletados são destinados a aterros sanitários. O restante ainda é enviado para locais ambientalmente inadequados, como lixões, aterros controlados, valas, terrenos baldios e áreas similares. 

A fração orgânica dos resíduos e o potencial de aquecimento global 

De forma geral, analisando o potencial de aquecimento global dessas três rotas, ou seja, fazendo um levantamento quantitativo das emissões de gases de efeito estufa,  o aterro sanitário é o de maior impacto. Mesmo em aterros onde há captura e aproveitamento do biogás, uma grande parcela ainda é emitida para a atmosfera a depender da eficiência de cada um.  

Na compostagem as emissões são significativamente menores, oriundas principalmente de processos anaeróbios que ocorrem dentro das leiras. Na digestão anaeróbia, com aproveitamento do biogás e do digestato, as emissões são mínimas, limitadas às chamadas emissões fugitivas, que podem ocorrer nas instalações de produção ou aproveitamento do biogás. 

A Análise de Ciclo de Vida é a técnica mais eficaz para quantificar tais emissões, pois considera não apenas as emissões diretas da decomposição dos resíduos, mas também, dependendo das fronteiras estabelecidas, engloba as emissões geradas em todos os processos, desde o transporte dos resíduos do local de origem até a destinação final dos subprodutos gerados. Essa abordagem é conhecida como “do portão ao túmulo”. 

Desafios e oportunidades na destinação de resíduos orgânicos no Brasil 

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), aprovado através do decreto n° 11.043, de 13 de abril de 2022, propõe metas, diretrizes, projetos, programas e ações direcionadas ao cumprimento dos objetivos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010).

Sendo assim, essas metas foram estabelecidas respeitando as etapas sequenciais de gerenciamento dos RSU: geração, coleta, tratamento e destinação final. 

Na meta 7 do Planares, projeta-se o aumento da reciclagem da FORSU, por meio de rotas tecnológicas descentralizadas como a compostagem e a biodigestão anaeróbia e a disposição final ambientalmente adequada em aterros, como a última opção na destinação de resíduos.

Todavia, essas práticas ainda são incipientes e pouco difundidas para esse tipo de resíduo, nos municípios. No país como um todo, a coleta seletiva que prevê a segregação da fração orgânica é quase inexistente, o que torna seu aproveitamento ainda mais difícil. 

Desta forma, os aterros sanitários continuarão sendo a prática mais utilizada na destinação da FORSU nos próximos anos.

Por isso é importante que as empresas invistam em tecnologias de captação de biogás em aterros sanitários, que além de mitigar a emissão de metano e possibilitar a substituição de combustível fóssil, podem proporcionar aumento na receita dos empreendimentos a partir da comercialização ou autoconsumo desse ativo energético produzido. 

De acordo com um estudo publicado em 2021 pelo Instituto 17, para o Brazil Energy Programme, o total de FORSU produzido no Brasil, cerca de 24,5 milhões de toneladas por ano, permite a geração de 1,9 bilhões de Nm³ de biogás por ano em 811 aterros.

Esse biogás pode ser utilizado para a geração de energia elétrica ou para a produção de biometano. Atualmente, as empresas do setor de gestão de resíduos têm investido em plantas de produção de biometano nos aterros para injeção na rede da distribuidora local ou venda direta para indústrias. Esse modelo de negócio permite a comercialização tanto da molécula, ou seja do volume de gás, como do atributo ambiental. 

Sobre a autora:
Andressa Pereira é Engenheira Eletricista, Mestre em Energias Renováveis com foco em Aproveitamento Energético da Biomassa e especialista em gestão de projetos. Atua como consultora técnica da Amplum Biogás. Conecte-se com Andressa pelo LinkedIn.

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